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EXCLUSIVO: GINECOLOGISTA JORGE VALENTE FALA SOBRE ABORTO, CÂNCER, CÉLULAS-TRONCO, MIOMAS E OUTRAS POLÊMICAS

domingo, 18 de março de 2012

A Ginecologia, ramo tradicional da Medicina que estuda as doenças e os distúrbios do sistema reprodutivo feminino, também evolui com os avanços da humanidade e, hoje, "não se restringe às moléstias e desordens da esfera genital feminina: é mais amplo e complexo o seu campo de ação, porque 'abrange a totalidade somática e psíquica da personalidade feminina, analisa-lhe o corpo e a alma como um todo integral e solidário nas suas reações aos estímulos partidos dos genitais" (N. M. Barros).

Para tratar sobre o assunto (na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher), convidamos o ginecologista baiano Jorge Valente. Graduado em Medicina pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 1998 com residência médica em Ginecologia concluída em 2000 no Hospital Roberto Santos, ele é especialista em Endoscopia Ginecológica (laparoscopia e histeroscópia) pela Fértile em Goiânia e em Uroginecologia pela Unicamp, além de ocupar os cargos/funções de Diretor médico do CePARH (Centro de Pesquisa e Assistência em Reprodução Humana), Delegado regional da Sobrage (Sociedade Brasileira de Ginecologia Endócrina) e membro vitalício da Iuga (International Urogynecology Association).

Nesta entrevista exclusiva, o profissional enfrenta e esclarece temas como células-tronco, planejamento familiar obrigatório, cuidados ginecológicos básicos (inclusive em períodos de festas) e reposição hormonal. E defende uma tese polêmica: a legalização do aborto (antecedido, contudo, da massificação preventiva).


SalvadorcomH - Quais os principais avanços e desafios da Ginecologia contemporânea?

Dr. Jorge Valente (JV) - Os principais avanços na ginecologia são na área de endoscopia, com as cirurgias minimamente invasivas. Procedimentos que antigamente demandavam um tempo de internação e tinham como padrão uma recuperação lenta da mulher, devido a necessidade de cortes, hoje são feitos de forma que a paciente recebe muitas vezes a alta no mesmo dia.  A vídeolaparoscopia, cirurgias de tratamento de incontinência urinária e tratamento de miomas são alguns exemplos de procedimentos que, com novos métodos e tecnologias, se tornaram minimamente invasivos.


SalvadorcomH - Hoje em dia é muito comum se associar a reprodução humana ao progresso da humanidade - por isso se fala tanto em clonagem e inseminação artificial, por exemplo. O que o senhor pensa sobre esses temas?

JV - Em relação à clonagem, eu particularmente sou contra. Sou a favor das pesquisas de células-tronco, que podem propiciar a cura de diversas doenças que são um desafio para a medicina. Estas pesquisas eu acho que devem continuar. Já em relação à reprodução humana, que é uma área específica dentro da ginecologia, os tratamentos novos são um grande avanço, a medida que propiciam que muitas mulheres realizem o sonho de ser mãe.


SalvadorcomH - E o aborto? Qual a sua opinião?ABORTO

JV - Minha opinião é que o aborto deveria ser legalizado, tendo em vista que acredito que esta é uma opção da mulher, que, ao se submeter a um aborto, deve ter motivos muito fortes para isso. O que eu acho, porém, é que deve, antes de tudo, haver uma massificação da educação sobre prevenção e métodos contraceptivos, para que, em vez de optar um aborto, que sem dúvida é um grande trauma, as pessoas optem por prevenir a gravidez indesejada, o que é muito mais simples e saudável.

 

SalvadorcomH - A quantas anda a Ginecologia brasileira, tanto cientificamente como nos centros de saúde?

JV - O Brasil está muito de acordo com o que acontece em ginecologia no resto do mundo, e até mesmo é top de linha em algumas áreas, como a das cirurgias minimamente invasivas. Infelizmente, porém, existe em nosso País uma dicotomia, que é gerada pela diferenciação da saúde pública e da saúde privada. Isso significa que muitos tratamentos mais modernos e eficazes, embora já disponíveis e conhecidos pelos profissionais brasileiros da área de ginecologia e da medicina em geral, não são disponibilizados pela saúde pública. Embora então, o País esteja em dia com os avanços da área da saúde, infelizmente eles ainda não estão acessíveis a toda a população.


SalvadorcomH - O Sr. é favorável ao Planejamento Familiar obrigatório como uma das soluções aos problemas sociais brasileiros?

JV - Não. Na minha opinião, nada que é obrigatório funciona. Pra dar um exemplo bem simples, o voto no Brasil é obrigatório, e temos essa realidade triste que vemos na política do País. Sou a favor da massificação da educação sobre os benefícios desse planejamento, tanto sociais quanto econômicos, e da forma de como se fazer isso.


SalvadorcomH - Em épocas de festa, como Carnaval e São João (por exemplo), quais os principais cuidados ginecológicos a serem adotados pelas pessoas?Jorge_Valente_-_ginecologista

JV - Nessas festas, a descontração, associada a um aumento da ingestão de álcool, propicia uma maior liberação sexual. Por isso, as principais consequências estão associadas à gravidez indesejada e DSTs. Por isso, o cuidado necessário é se prevenir devidamente, e, nesse sentido, temos que lembrar que a camisinha é primordial, já que é o único método que previne tanto a gravidez quanto as doenças sexualmente transmissíveis.


SalvadorcomH - E no dia a dia? Quais os principais cuidados a serem adotados?

JV - É importante que a mulher tenha um cuidado com sua higiene íntima, evitando a proliferação de fungos e outros microorganismos, além das visitas regulares (semestrais) ao seu ginecologista, para a realização dos exames que podem evitar que uma doença seja descoberta apenas em estágio avançado. Também considero importante que mulheres que tem uma vida sexual ativa façam uso frequente de um método contraceptivo.


SalvadorcomH - O câncer é uma das principais causas de morte na atualidade. Como ele tem afetado a Ginecologia?

JV - Um desafio que encontramos é o câncer de colo de útero, que é o terceiro que mais mata na área de ginecologia. A questão é que esta realidade poderia ser diferente, pois temos o exame preventivo para detectar lesões que podem levar a este tipo de câncer, que, embora seja feito na rede pública, não é acessível como deveria. Isso porque existem regiões, especialmente no Norte e no Nordeste, nas quais as mulheres ainda tem um acesso muito difícil à saúde. Além disso, hoje temos a vacina contra o HPV, que é a maior causa de câncer de colo de útero, mas ela não é disponibilizada na rede pública. Isso poderia evitar inúmeros casos de câncer, mas infelizmente a maior parte das mulheres não tem acesso, por ser uma vacina que só está disponível na rede particular.


SalvadorcomH - É possível traçar um perfil da Ginecologia entre ricos e pobres? Há distinção nas demandas?

JV - Como disse, existe esta diferença no acesso aos tratamentos, para quem usa a rede pública e quem usa a privada. Podemos até mesmo achar grandes diferenças dentro da própria rede pública, dependendo da região. Em São Paulo, por exemplo, existem grandes hospitais públicos, que propiciam diversos tipos de tratamento. Já em regiões como o Norte e Nordeste, a oferta de tratamentos é mais restrita. O que podemos observar também é que as pacientes que utilizam a rede pública, muitas vezes não tem acesso a uma prevenção adequada – como as visitas reulares ao ginecologista e exames de prevenção -, por isso sofrem mais de algumas doenças que podem ser evitadas quando essa prevenção é feita.


SalvadorcomH - Quando uma mulher deve procurar um ginecologista? O corpo exibe sinais qua apontam a necessidade da procura desse especialista?

JV - A primeira visita ao ginecologista deve ser feita no início da puberdade, quando ocorrem três sinais no corpo da mulher – o aparecimento do broto mamário, dos pelos pubianos e a primeira menstruação.

reposicao_hormonal

SalvadorcomH - Quais os mitos e verdades sobre reposição hormonal?

JV - A reposição hormonal é um tratamento que propicia mais qualidade de vida para a mulher. Hoje, as pacientes podem chegar à terceira idade sem perder a vitalidade, a alegria, o desejo, e com mais saúde, se for aplicado o tratamento hormonal correto. Embora a reposição hormonal seja ainda motivo de polêmica, os avanços na área e novos métodos de utilização de implantes, que são nada mais que veículos para a administração dos hormônios, garantem mais sucessos no tratamento. Existem grandes vantagens na escolha do implante, como redução nos efeitos colaterais como gastrite, interação com outras drogas utilizadas pela paciente, enjôo e risco de aumento de pressão arterial. Além disso, evita o esquecimento de tomar a medicação. As medicações utilizadas também avançaram muito. Hoje, utilizamos hormônios bioidenticos, que são similares aos do corpo humano, o que reduz efeitos colaterais. Um dos hormônios que tem sido amplamente utilizado, tanto para homens quanto para mulheres é a testosterona. Isso porque este hormônio atua no sistema nervoso central e tem efeito direto sobre a libido e o humor, além de melhorar a musculatura.


SalvadorcomH - Tem mais alguma coisa que o Sr. considere importante dizer?

JV - As duas principais causas de visita ao ginecologista, quando a consulta não é de rotina, são corrimentos e sangramentos. No caso dos corrimentos, muitas vezes eles são causados por fungos, que podem ser evitados com uma higiene íntima adequada, e com cuidados como não permanecer muito tempo com roupas molhadas – importante para regiões litorâneas como a nossa. Já no caso dosmiomasangramentos, algumas das causas podem ser a endometriose, doença que vem sendo hoje mais discutida, mas é de difícil diagnóstico, e pode causar infertilidade, mas já conta hoje com tratamentos adequados e minimamente invasivos. Outra causa pode ser o mioma, que é responsável por cerca de 40% das consultas ginecológicas e é também uma das grandes causas de infertilidade nas mulheres. Os miomas são tumorações benignas do útero, que podem variar quanto à localização e tamanho, e são mais incidentes na população negra – cerca de 40% dos casos. Os miomas podem causar sangramentos, aumento do volume do abdômen, dor pélvica e infertilidade, e como a incidência da doença em mulheres em idade reprodutiva é alta, isso se torna uma grande preocupação para quem deseja ser mãe. Existem hoje técnicas avançadas de tratamento, que preservam a fertilidade das pacientes. Pode ser um tratamento hormonal, cirurgia para retirada apenas do mioma, cirurgia para retirada do útero, embolização ou, em alguns casos, a associação de mais de uma dessas técnicas.

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