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Corpinho pós-parto

domingo, 4 de março de 2012

Logo depois de ter dado à luz, a mulher comum vê notícias sobre alguma celebridade que surgiu magérrima semanas após o parto.

A reação à foto é dúbia. De um lado, há a desconfiança de que a famosa amamente montada na bicicleta ergométrica. De outro, inveja ao pensar que ela mesma vai demorar meses antes de se reencontrar com o jeans favorito.

"Emagrecer é mais difícil para as novas mães por conta do contexto social", diz a nutricionista Cynthia Antonaccio, da Equilibrium Healthy Food. Ela enumera: a licença-maternidade, que põe a mulher o dia inteiro perto da geladeira, o hábito de comer a sobra de comida que a criança deixa, as festas infantis e a falta de tempo para exercícios são alguns sabotadores da volta à silhueta.

Há "excesso de autoindulgência" no comportamento das novas mães, diz Andrea Santa Rosa, membro do Centro Brasileiro de Nutrição Funcional e do Institute for Functional Medicine (EUA).

"Muitas mulheres usam a gravidez ou a amamentação como justificativa para fazer atrocidades alimentares que elas não se permitiriam em outras fases da vida. Depois do parto o corpo 'quer' emagrecer, é natural que volte ao peso anterior, mas você também não pode fazer de tudo para impedi-lo", diz.

Para a apresentadora Angélica, que voltou ao seu peso (53 quilos) seis meses após o nascimento do segundo filho, o segredo é o equilíbrio.

"As prioridades mudam. Você passa a se preocupar mais com o bebê, a madrugada é pontuada por mamadas, você não dorme muito bem, fica com menos disposição nessa fase. Tudo tem seu tempo", diz ela, que fez drenagem linfática até no dia do parto e muita dieta e malhação logo depois.

A mulher que ganhou entre nove e 12 quilos na gestação deve recuperar o peso anterior em cerca de seis meses. Quem engordou mais pode levar até nove meses para perder os quilos extras, segundo o obstetra Paulo Martin Nowak, da Unifesp.

O ideal para emagrecer com saúde nessa fase é perder até um quilo por semana, segundo a nutricionista Cynthia Antonaccio.

Quem manteve o peso adequado na gestação e se alimentou bem pode perder os quilos extras só com o gasto calórico do aleitamento.

É o caso de Amanda Agostini, 28. Dois meses após a chegada de sua filha, a publicitária já havia recuperado seu peso. Na gravidez, ganhou só os dez quilos recomendados e fez caminhadas. Hoje, três meses depois do parto, não faz dieta. Seu único exercício é passear com a filha pelas ruas do bairro.

Tanta facilidade, no entanto, foi possível porque antes da gravidez Amanda corria e nadava: "Agora fico cansada só de pensar em exercício. Quando tenho tempo livre quero mais é descansar". 

PREPARO FÍSICO
Mesmo quem não teve dificuldade para perder os quilos a mais deve praticar algum exercício leve. A atividade física ajuda a superar outros percalços do pós-parto, como a queda abrupta na quantidade de hormônios, que pode levar a mulher a comer mais ou a se sentir "feia".

Além disso, a distensão sofrida pela pele da barriga pode causar estrias e flacidez; o útero ainda dilatado faz com que a postura permaneça como na gravidez, com a barriga projetada para frente e a lombar desalinhada.

A falta de preparo físico faz com que muitas mães sintam dores nas costas e nos braços.

Magrinha e sedentária, a redatora Luciane Zardo, 31, pretende fazer pilates para se livrar das dores de coluna: "A gente fica o tempo inteiro com a coluna projetada para frente para cuidar do filho, uma hora começa a doer". 

O que as celebridades têm que você não tem? 

DINHEIRO 
Quem tem mais dinheiro leva vantagem na hora de recuperar a forma: "O acesso a uma academia, a presença de equipamentos de ginástica em casa e a contratação de treinadores particulares ajudam celebridades e mulheres com maiores condições a emagrecer mais rápido, não tem como negar. Quem não tem esses privilégios precisa ser mais disciplinada para conseguir os mesmos resultados", diz o fisioterapeuta Bruno Costa. 

TEMPO 
Logo que o bebê nasce, a vida da mãe gira em torno dele, é claro. Não precisa ser diferente, mas é importante que a mulher reserve algumas horas de solidão por dia para colocar a vida e os pensamentos em ordem e se exercitar. Celebridades costumam ter babás e enfermeiras disponíveis. Se esse não é seu caso, peça a ajuda do pai do bebê e de parentes ou se exercite enquanto está com o bebê. 

META 
Famosas costumam ter um outro aliado: uma meta, um prazo para voltar ao trabalho -e em forma. Mesmo que sua profissão não seja tão exigente em relação à imagem, estabelecer uma data pode turbinar sua força de vontade. Vale o seu próximo aniversário, o final do ano, o aniversário do bebê. "Estabeleça prazos realistas para voltar ao peso e que respeitem seu corpo", aconselha a nutricionista Cynthia Antonaccio. 

Tem quem faça, mas a lipo logo após o parto é muito perigosa
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quem engravida depois dos 35 pode encontrar mais dificuldade para voltar ao peso anterior. Mulheres que deram à luz ao primeiro filho lá pelos 20 anos e voltam a engravidar depois dos 30 costumam sentir a diferença. 

Como Lucila Figueiredo, 39. Teve seu segundo filho há um ano e dois meses e ainda não recuperou a forma. "Engordei 17 quilos na gravidez, nunca me senti tão imensa." Ela, 1,60 m, pesava 70 quilos quando engravidou. 

"Na gestação mantive os meus hábitos. Nunca fui de comer porcarias, frituras, mas uma segunda gravidez com 38 anos contribuiu para ganhar tudo isso de peso." Quando teve a primeira filha, aos 29, engordou nove quilos. 

"Não fiz e não faço atividade física. Durante a amamentação perdi dez quilos. Passei o ano oscilando entre 75 e 77 quilos até que, em dezembro, resolvi encarar uma dieta. Até agora perdi dez quilos", conta Lucila. 

RISCO AUMENTADO 
Uma lenda urbana que circula entre novas mães diz que celebridades saem da mesa de parto diretamente para a mesa de lipoaspiração. 

O procedimento, embora não seja ilegal, é de alto risco. O organismo leva seis semanas para voltar ao normal depois do parto. Nesse período, a mulher ainda tem anemia relacionada ao sangramento do parto e seus hormônios ainda não voltaram ao normal, o que pode influenciar na coagulação. Coração, fígado e rins ainda estão se recuperando da sobrecarga da gravidez. 

"Tudo isso gera um risco aumentado para a anestesia e para a cirurgia", explica o obstetra Paulo Nowak. Para o médico, a lipo só deveria ser feita depois do desmame. 

"A amamentação interfere na liberação hormonal, o que gera impacto na coagulação e eleva muito o risco de trombose", afirma o médico. 

Recuperar a boa forma ajuda a ter a resistência física necessária para carregar o bebê e todo o aparato que surge junto com ele. A ansiedade em relação a isso, no entanto, pode se transformar em inimiga da nova mãe. 

A pressa para voltar ao peso é uma "loucura descabida", na opinião da nutricionista Andrea Santa Rosa. "A indústria da imagem tem gerado desequilíbrio na cabeça das mulheres. Em vez de criar laços com o filho, muitas ficam com a obsessão de aparecer magras na foto. É focar no ponto errado. Nessa fase, o corpo diz para a mulher que é hora de focar na cria", diz. 

Ela destaca ainda a importância do parto normal no processo de volta à forma: "Já passei por ambos; é inegável que o natural ajuda a mulher a se recuperar mais cedo". 
(JULIANA CUNHA) 

Quantos quilos ganhar na gestação 

Peso antes da gravidez
Baixo peso 
Índice de massa corpórea (kg/m²)
menor que 18,5 
Ganho de peso recomendado durante a gestação
entre 12,5 e 18 quilo 
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Peso antes da gravidez
Peso adequado 
Índice de massa corpórea (kg/m²)
entre 18,5 e 24,9 
Ganho de peso recomendado durante a gestação
entre 11 e 16 quilo 
________________________________________

Peso antes da gravidez
Sobrepeso 
Índice de massa corpórea (kg/m²)
entre 25,0 e 29,9 
Ganho de peso recomendado durante a gestação
entre 7 e 11,5 quilo 

Fonte: Institute of Medicine (IOM-2009). A tabela indica valores gerais. O médico pode recomendar outros valores a depender do caso 

A maternidade é uma ginástica 
É possível improvisar uma academia no quarto do bebê. Com a pequena Mia Prado, de seis meses, a treinadora Cloe Celentano mostra aqui exercícios baseados no livro "Em Forma Com Seu Bebê" (Panda Books, R$ 45, 126 págs.), de Myrian Clark. A série completa (uma hora) usa objetos do cotidiano do bebê e o próprio peso da criança como sobrecarga. Veja os 16 exercícios na folha.com/no1050395 

FLEXÃO COM BEIJINHO
Deitada de barriga para baixo, apóie as mãos no chão na largura dos ombros. Mantenha os joelhos unidos e apoiados. Estenda os braços com os cotovelos voltados para fora, levantando o tronco. Ao mesmo tempo, eleve o quadril apoiando-se nos joelhos. Flexione os braços para voltar à postura inicial. Com cuidado, coloque o bebê sob o seu tronco e aproveite para dar beijinhos em sua barriga. Além de trabalhar o peitoral, você faz carinho no seu parceiro de malhação 

CARRINHO MULTIUSO
Afaste as pernas, flexione o tronco à frente e estenda os braços, apoiando-os no carrinho. Projete o quadril para trás e fique por 15 segundos. Alinhe cabeça, braços e tronco. Já as pernas devem estar semiflexionadas. Ajuda a alongar as costas. Não esqueça: trave o carrinho e coloque o cinto de segurança na criança 

AVIÃOZINHO SECA-BARRIGA
Deite-se de costas com as pernas flexionadas e elevadas. Apóie o bebê sobre as pernas e segure-o pelas mãos ou pelas axilas enquanto movimenta as pernas para frente e para trás. Muitos pais fazem "aviãozinho" sem saber que é um excelente exercício para eles e para a criança. Esses movimentos fortalecem os músculos das costas e do pescoço do bebê e funcionam como abdominais para a mãe. Para ficar mais divertido, faça um barulho de motor enquanto se movimenta 

PESO PESADO
Com as pernas um pouco afastadas, segure o bebê pelas axilas e aproxime-o do seu rosto. Flexionando os cotovelos, volte à posição original para trabalhar o bíceps. Quando trouxer o bebê próximo ao seu rosto, brinque de "beijinho de esquimó", roçando seu nariz no dele, ou faça uma cara engraçada 

SEM VARIZES
Apóie uma das mãos na lateral do berço e deixe os pés paralelos na linha do quadril. Suba e desça na ponta dos pés. Trabalha as panturrilhas e melhora a circulação das pernas. Se quiser mais eficácia, não encoste os pés no chão ao descer. Quanto mais você estimular a contração das panturrilhas, melhor será a circulação dos membros inferiores 

"Não tem 'personal' melhor do que criança", afirma Angélica
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Esticar e emagrecer parece ter se tornado a especialidade da apresentadora Angélica, 38. Ela posou para revistas de dieta nove meses depois da primeira gravidez e cinco meses após a segunda.

"O segredo é não ganhar muito peso na gestação", contou à Folha. Na gravidez de Joaquim, engordou dez quilos. Na de Benício, 13. "É mais difícil voltar ao peso depois da segunda gravidez."

Mas Angélica acredita que ter crianças em casa já é uma ginástica: "Não tem melhor 'personal trainer' do que os filhos correndo e a gente correndo atrás deles", diz.

A jornalista Myrian Clark concorda. Teve gêmeos na primeira gravidez e descobriu que os bebês eram tão eficientes quanto uma academia. Na segunda gravidez consultou um professor de educação física para sistematizar sua ginástica materna.

"Ele me ensinou a contrair a barriga enquanto empurrava o carrinho, a manter a postura correta na hora de carregar o bebê, coisas que a gente repete tantas vezes ao dia que são de grande ajuda."

A experiência de Clark está no livro "Em Forma Com Seu Bebê" (Panda Books, veja alguns exercícios à pág. 7). "Depois de ter filhos a gente quer passar o tempo todo com eles; minha solução foi incluí-los nos exercícios", diz.

Segundo o obstetra Paulo Nowak, quem não teve complicações no parto normal pode voltar a se exercitar em duas semanas. Já o resguardo da cesariana é de 40 dias.

Depois é aconselhável fazer alguma atividade leve com acompanhamento médico. É que nos seis primeiros meses de maternidade, a pressão arterial precisa ser vigiada na atividade física, que não deve ser feita no calor.

Atenção também para o ganho "mágico" de flexibilidade: "Por conta da relaxina, hormônio que amolece as articulações pélvicas e dá flexibilidade para o parto, as mães costumam alcançar maiores amplitudes de movimento, mas se o músculo não está preparado para tanto alongamento isso pode gerar lesão", alerta a personal trainer Cloe Celentano. 
(JC) 

O bebê ajuda ou atrapalha o plano de perder peso? 
Ajuda 
• Ao amamentar, a mãe queima 85 calorias para cada 100 ml de leite produzido
• Cuidar de uma criança é uma verdadeira ginástica que envolve corrida e muito levantamento de peso
• Durante a gestação e a amamentação muitas mulheres passam por uma reeducação alimentar. O objetivo é garantir a saúde da criança, mas a lição aprendida pode ficar para a vida
Atrapalha 
• Usar a gravidez como justificativa para o excesso de peso leva a mãe a um processo de autoengano que só agrava a situação
• Cuidar de um bebê gera tanto cansaço que é difícil ter ânimo para malhar durante o pouco tempo livre
• O encantamento com o bebê faz muitas mães se esquecerem de si mesmas e relaxarem com a própria saúde