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Consumo de peixe reduz risco de câncer na mulher

domingo, 4 de março de 2012

Uma pesquisa publicada neste mês no periódico científico American Journal of Clinical Nutrition revela que o consumo de pelo menos três porções de peixe por semana reduz o risco de mulheres desenvolverem tipos específicos de pólipos de cólon — que podem evoluir para câncer colorretal (CCR). Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) indicam que o câncer no cólon e no reto é o terceiro tipo mais incidente em todo o mundo. No Brasil, as regiões Sul e Sudeste são as que apresentam mais casos da doença. O Rio Grande do Sul, estado com o maior número de portadores, tem, aproximadamente, 27 casos a cada 100 mil homens e 27,6 a cada 100 mil mulheres.

Os pesquisadores do Vanderbilt-Ingram Cancer Center, dos Estados Unidos, justificam que a gordura ômega-3, presente em peixes como atum, sardinha e salmão, é capaz de diminuir a inflamação no corpo e ajudar a protegê-lo contra a doença. Para chegar à conclusão do estudo, cerca de 5,3 mil pessoas se submeteram à colonoscopia — exame endoscópico do intestino grosso indicado para diagnosticar tumores iniciais e detectar doenças inflamatórias no intestino e outras patologias. Durante a pesquisa, os participantes revelaram com que frequência consumiam peixes. Também foram analisadas amostras de urina para encontrar biomarcadores — instrumentos que identificam uma substância tóxica ou condições adversas antes que haja danos à saúde.

As mulheres que consumiam a porção indicada de peixe por semana apresentavam uma atenuação de 33% no risco de desenvolver pólipos do cólon e adquiriam níveis mais baixos do hormônio prostaglandina E2 (PGE2), que está ligado à inflamação. Os pesquisadores não observaram, contudo, o mesmo resultado em homens. “A diferença nos resultados pode estar na alimentação em geral”, diz Harvey Murff, coordenador da pesquisa. “Mesmo que os homens estejam comendo mais ácidos graxos ômega-3, também podem estar comendo mais ácidos do tipo ômega-6, presentes em aves, ovos, abacate e cereais, entre outros alimentos, o que pode cortar o efeito”, completa.

Tanto os pólipos de cólon quanto o câncer estão associados ao aumento do PGE2, um mediador lipídico de importância na bioquímica, ligado a receptores acoplados às proteínas g — componentes predominantes em várias doenças e drogas medicinais. “A capacidade de reduzir o nível do hormônio é a explicação para o fato de podermos ver a redução do risco dos pólipos de cólon nas pessoas.”

Murff acredita que, apesar das intervenções efetivas, como a colonoscopia — que pode reduzir a chance de ter a doença —, o câncer colorretal ainda é a segunda patologia que mais causa mortes nos Estados Unidos, ficando atrás somente do câncer de pulmão. “Há, aproximadamente, 140 mil novos casos de câncer no cólon e no reto diagnosticados todos os dias nos EUA. Esse número, entretanto, está diminuindo aos poucos devido a campanhas e outras ações políticas”, justifica.

Aproximação
Em 2009, cada brasileiro comeu, em média, 9kg de peixe — um aumento de aproximadamente 40% em relação ao consumo verificado em 2003 (6,46kg) —, número próximo ao idealizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de 12kg por habitante a cada ano. No Estado do Amazonas, o consumo per capita do pescado é de 54kg/ano. Como indica um relatório do Inca, na Região Norte, o câncer de cólon e reto atinge cerca de quatro mulheres a cada 100 mil — um dos menores índices do país. “Esse mesmo resultado foi descrito em outros países que consomem muito peixe, como o Japão. Eles podem ser relacionados com a minha pesquisa, mas é difícil fazer certas associações sem um estudo mais profundo”, observa Murff.

O oncologista Selmo Minucelli, do Exame Medicina Diagnóstica, não se surpreendeu com o resultado da pesquisa e a relação entre o consumo de peixe e a diminuição do risco de desenvolver pólipos do cólon, com níveis mais baixos de PGE2. “Outros estudos associam a carne do peixe a vários benefícios para o corpo. Já sabemos, por exemplo, que o pescado pode ser responsável pelo bem-estar dos vasos arteriais.” Minucelli alega, contudo, que muitos brasileiros desconhecem esse tipo de câncer — só em 2010, detectado em 30.140 brasileiros (14.180 homens e 15.960 mulheres). “Não temos campanhas de prevenção como as relativas a cânceres mais conhecidos, como o de próstata e de mama. O CCR pode ser identificado com exames fáceis”, completa.

Novo objetivo
A oncologista Cláudia Ottaiano acredita que é imprescindível que os brasileiros a partir de 50 anos façam uma colonoplastia para identificar os pólipos. “Nosso objetivo é evitar que a população tenha acesso a muitos produtos industrializados e que se preocupe mais com o que consome. Sabemos que o peixe têm ômega-3 e atua como anti-inflamatório, mas ainda há muito para ser estudado sobre a relação dele com o câncer”, continua Cláudia.

O nutricionista do Inca Fábio Gomes considera que, para seguir uma recomendação específica para prevenir o câncer consumindo peixe, outros estudos precisam apontar o mesmo resultado. Ele alerta que é preciso tomar cuidado com a forma de preparar a carne, que pode conter elementos cancerígenos: “Se consumirmos peixe grelhado em vez de frito, contribuiremos para uma vida mais saudável e com riscos menores de desenvolvimento de câncer. A carne vermelha em si, consumida em excesso, independentemente da forma de preparo, está ligada ao estímulo e à hiperproliferação de células no nosso intestino”, comenta Gomes, lembrando que a patologia é uma multiplicação exacerbada e descontrolada de células.