contato@jorgevalente.com.br

Alimentação, um alerta para os pais

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Sedentarismo e má alimentação, uma combinação perigosa que tem elevado os índices de obesidade infantil em todo o Brasil. No Distrito Federal, os dados são alarmantes: uma em cada três crianças entre 5 e 10 anos sofre com sobrepeso ou obesidade. Dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), órgão ligado ao Ministério da Saúde, colocam a capital federal em primeiro lugar no ranking nacional, com índice similar somente ao do Rio Grande do Sul (veja quadro). Segundo o levantamento, dos 33,8% de meninos e meninas com Índice de Massa Corpórea (IMC) acima do normal, 17,4% têm sobrepeso e 16,4% estão obesos. Em 2010, 27,1% dos entrevistados estavam nessa situação, um crescimento de 6,7 pontos percentuais em 12 meses. No Brasil, a média atual é de 25,6%. 

Os números do DF mostram a realidade de 2.398 crianças avaliadas em unidades básicas de saúde em 2011. A análise segue os padrões da Organização Mundial da Saúde (OMS), que relaciona peso e altura para chegar a uma taxa ideal por sexo e idade. “Esta é uma tendência crescente em todo o mundo. Porém, no último ano, atingimos os índices mais altos do país, o que demonstra também uma mudança de hábitos na população”, enfatiza a coordenadora do Sisvan na Secretaria de Saúde do DF, Regina Márcia Miguel Barros. Para ela, a troca das brincadeiras de rua pelo videogame e pelo computador ajuda a aumentar o sedentarismo. “Elas deixam de fazer exercício físico. É um estilo de vida que precisa ser mudado, pois os números se refletem também em adultos e idosos com sobrepeso”, alerta.

Batatinhas fritas, refrigerantes, sanduíches e biscoitos recheados, guloseimas tão amadas pelos pequenos são também alimentos com alto índice calórico e quase sem nenhum valor nutricional. “Se formos olhar o rótulo desses produtos, veremos que eles estão cheios de amido e sódio. Exemplos de substâncias que, se consumidas em excesso, podem levar a doenças sérias, como a hipertensão e a diabetes”, afirma Regina Coeli de Carvalho, especialista em nutrição infantil e professora do Departamento de Nutrição da Universidade de Brasília. Para ele, esse tipo de alimento não precisa ser retirado do cardápio completamente. Em um fim de semana ou em uma ocasião especial, eles podem ser consumidos. “Para quem já está em um quadro de obesidade, é preciso cortar totalmente. Aos que desejam prevenir, a postura de comer esporadicamente pode funcionar”, complementa.

Outra medida eficaz é criar um hábito de alimentação saudável desde a primeira infância dos filhos. Estudo da OMS mostra que, em famílias com pais obesos, as chances de as crianças crescerem com sobrepeso aumentam em 80%. No caso de pai e mãe com IMC adequado, a possibilidade cai para 10%. Logo, se é criada uma rotina de boa alimentação, meninas e meninos provavelmente vão seguir essa tendência. “Na idade apontada pela pesquisa, eles não têm livre-arbítrio. O problema é que as pessoas perderam o costume de comprar verduras e frutas. Alguns alegam até que dá mais trabalho preparar esses alimentos”, aponta Regina. 

A arquiteta Helaine Ferreira Caloête, 40 anos, já tentou de tudo para mudar os hábitos do filho. Hoje com 11 anos, no ano passado, Rafael Ferreira estava justamente na faixa de idade pesquisada e se encaixa no grupo que corre risco de sobrepeso. “Acho que ele está um pouco acima do peso, podia emagrecer. Levei o Rafael a uma consulta com nutricionista, mas ele odeia frutas e verduras. Uma vez, o obriguei a comer tomate e ele até vomitou”, relata a mãe. Como tentativa de melhorar a saúde do filho, Helaine o inscreveu em uma atividade física. “Como ele não gosta mesmo de alimentos saudáveis, não vou obrigar mais a seguir a dieta. Porém, fiz matrícula na natação. Talvez, fazendo exercícios, ele largue o sedentarismo e emagreça”, diz a mãe. 

Mudança na rotina
O engenheiro agrônomo Mauro José de Amorim, 51 anos, começou a mudar o estilo de vida em casa para manter a saúde do filho Guilherme Amorim, 10 anos. Agora, a rotina de pizzarias e restaurantes fast food diminuiu. “Passamos a evitar esses locais para ele não cair em tentação. Abrimos somente algumas exceções. Há três meses, levamos o Guilherme em uma nutricionista. Desde então, ele está seguindo dieta à risca”, conta o pai. Apesar do esforço, o garoto revela suas preferências: “Meus pais mandam comer salada, mas eu adoro fritura e doce. Pratico exercício físico e estou tentando emagrecer. Mas acho muito chato só comer alimento saudável”.

A especialista em nutrição infantil Regina Coeli de Carvalho afirma que o sobrepeso também pode significar um problema que vai além da alimentação. “As crianças podem estar ansiosas ou deprimidas. A rotina de muito trabalho dos pais, viagens constantes, podem também influenciar. Não deixa de ser uma perda para eles”, ressaltou.