contato@jorgevalente.com.br

Basta uma letra para escrever uma tragédia

domingo, 24 de junho de 2012

Mandar mensagem de texto pelo celular ao volante ainda é frequente entre os motoristas brasilienses. Segundo o Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), a ação, apesar de ser a causa de muitos acidentes de trânsito, é praticamente impossível de ser fiscalizada, já que o condutor não deixa o aparelho à vista. Para combater a prática, a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) começou, na última segunda-feira, a primeira campanha nacional para conscientizar a população sobre os perigos do envio de torpedos enquanto dirige. 

A associação se baseou em pesquisas internacionais — o Brasil ainda não tem estudos nesse campo — para iniciar a campanha educativa. De acordo com os estudos, quando o motorista manda um SMS ao volante, o risco de acidentes aumenta até 23 vezes. A campanha alerta que apenas uma letra pode provocar uma colisão. “Se um carro está a 60km/h e o motorista tira os olhos da via por apenas cinco segundos, o suficiente para digitar uma mensagem pequena, ele andou cerca de 100 metros sem olhar para frente. É como se, nesse período, uma pessoa cega estivesse dirigindo”, explicou David Duarte Lima, doutor em segurança no trânsito pela Universidade de Brasília (UnB). 

Para a conscientização, o grupo fez um vídeo de 30 segundos que mostra uma criança cantando uma música com o alfabeto enquanto são mostradas imagens de acidentes registradas por câmeras de segurança. A mensagem é: “Uma letra é o suficiente. Ao dirigir, não envie SMS”. O chefe do Departamento de Medicina do Tráfego Ocupacional da Abramet, Dirceu Rodrigues Alves Júnior, explicou que o objetivo é sensibilizar a população. “Pessoas entre 18 e 34 anos costumam cometer o erro porque têm mais facilidade de manusear os aparelhos e acabam desenvolvendo uma compulsão. Temos de combater isso”, justificou. 

O diretor de Policiamento e Fiscalização do Detran-DF, Nelson Leite, explicou que a fiscalização, nesse caso, não é eficaz. “Não temos como saber o que o motorista está fazendo se não estiver a nossa vista”, esclareceu. Além disso, não há legislação específica para condutores que escrevem no celular enquanto trafegam. “Ainda assim, quando flagramos a ação, podemos autuá-lo por não dirigir com a atenção devida e com as duas mão ao volante”, completou. 

No entendimento de David Lima, da UnB, a melhor maneira de evitar o envio de mensagens enquanto dirige é a conscientização. “É um problema muito sério. Apenas com educação os motoristas vão aprender o perigo dessa ação. A sociedade, hoje, é muito imediatista, até com futilidades. Muitas vezes, o conteúdo do SMS enviado no carro não é urgente. Ou seja, poderia ter sido mandado depois. Se tiver de ser mandado naquele instante, o indicado é parar o veículo em local seguro”, advertiu o especialista. 

Em 2011, o total de multas por utilizar o celular enquanto dirige no Distrito Federal chegou a 45 mil — o que totalizou uma arrecadação de mais de R$ 5 milhões aos cofres públicos. O aumento é de 56% na comparação com as autuações de 2009. Apenas nos primeiros meses deste ano, foram registradas 4,5 mil multas dessa natureza. “Qualquer prática que tire a atenção do motorista é prejudicial e pode causar acidentes. É muito comum ver condutores falando ao celular com o carro em movimento, mas escrevendo SMS é menos comum”, disse Leite. Como resultado, a cada 12 minutos, um motorista recebe uma multa em decorrência dessa infração na capital federal.

Sondagem nos EUA
Um estudo divulgado em 2010 pela Pew Research Center, uma entidade sem fins lucrativos de Washington, revelou uma grande frequência de jovens norte-americanos que mandavam SMS enquanto dirigiam. A pesquisa constatou que um em cada três adolescentes entre 16 e 17 anos enviou mensagem de texto ao volante. O Código de Trânsito dos Estados Unidos permite que
um jovem de 16 anos possa obter licença para dirigir.